A Poetisa e a Fundação da Biblioteca Pública Infantil.


 


Compartilhar o conhecimento sobre a contribuição da biblioteconomia para o desenvolvimento educacional da década de 30, é necessário para compreendermos os acontecimentos atuais através dos recortes sociais e políticos do passado que vetaram um novo modelo de aprendizagem e a permanência da Primeira Biblioteca Pública Infantil no Brasil. 


 Foto: Poeta Cecília Meireles.

Dentro desse cenário difícil de inclusão da Literatura atrelada as importantes funções da biblioteconomia, está a Poetisa/Educadora Cecília Meireles considerada umas das pioneiras intelectuais que lutaram em prol do desenvolvimento da leitura em nosso País.
Sua vasta experiência educacional motivou Anísio Teixeira (Responsável pela Diretoria Geral de Instituição Pública) convida-la para o gerenciamento da Primeira Biblioteca Pública Infantil no Pavilhão Mourisco.
Sempre fascinada pela educação infantil, por volta de 1923- a escritora editou seus primeiros livros tradicionais para crianças adotado pela Diretoria de Instrução Pública e aprovado pelo Conselho Superior de Ensino dos Estados de Minas Gerais e Pernambuco. Com ilustrações do Português Correia Dias (esposo da escritora na época). 

Os livros:

Criança Meu Amor.
Rute e Alberto, Leituras Infantis.


Mais adiante, a insuficiência de Bibliotecas no Distrito Federal-RJ fez a ABE (Associação Brasileira de Educação) criou através da cooperação da família uma campanha para viabilizar projetos direcionados as bibliotecas escolares objetivando atividades relacionadas a educação através de Palestras, Rádios, Concursos e Conferências para melhorias dos livros.

O Pavilhão e a Gestão da Primeira Biblioteca Infantil no Brasil.

O Pavilhão Mourisco cujo o nome deriva do “Mouro” (termo referencial dos árabes) foi construído durante a administração do prefeito Souza Aguiar em 1906, na praia do Botafogo-RJ-com cinco cúpulas douradas projetado pelo então Arquiteto Alfredo Burnier. Na época, funcionava um restaurante e uma casa de Chá/Cafeteria.
Em 1934- Cecília Meireles iniciou o gerenciamento da Biblioteca Pública Infantil, instalada no Pavilhão com ideias inovadoras suscitando grande interesse da Sociedade. Sendo assim, o local transformou-se rapidamente em um verdadeiro Centro Cultural para crianças e adolescentes.

Funcionamento da Biblioteca:

A biblioteca funcionava pela manhã / tarde sempre conciliando o horário escolar para atividades complementares dentro da biblioteca, tendo intuito de estimular a criatividade e o gosto espontâneo pela leitura. Inicialmente a Biblioteca disponibilizava empréstimo de apenas um livro, pois o acervo não tinha duplicatas.
Sempre preocupada com bom funcionamento da biblioteca, Cecília realizou uma pesquisa entre os alunos para reconhecer as necessidades literárias, assim, contribuir para seleção e constituição de um acervo mais funcional.
Em sua administração a Biblioteca foi considerada um exemplo de Representação Educacional da década de 30, organizada em nove seções: 

1- A biblioteca iniciou com 720 obras com 498 livros didáticos (Leituras /Compêndios/Manuais/). Contendo 190-Fascículos-222 Obras literárias em Prosa / Verso de Literatura Infantil dentre outros.
2- Compostas por gravuras com 781 unidades/ Documentação gráficas relativas ao Brasil: História, Arte, Ciência.
3-Cartografia, Globos, Mapas do Brasil e do Mundo da América e da Cidade do Rio de Janeiro/ Plantas Topográficas e Bandeiras.
4-Recortes 23 álbuns sobre diversos assuntos/Enciclopédias, Jornal Mural atualizados diariamente.
5-Seção de selos/ Moedas brasileiras
6-Música/Cinema Educacional
7-Atividades Artísticas/ Contos/ Artes dramáticas
8-Propaganda e Publicidade responsáveis pelas publicações relativas as datas comemorativas/ Relatórios de Atividades da Biblioteca.
9-Observações/Pesquisas-Objetivo de realizar levantamento de preferências de leituras das crianças para fornecer material de estudos para Educadores/Pesquisadores.
Nos primeiros três meses a biblioteca já contava com aproximadamente 200 leitores, tendo em 1937, cerca de1500 leitores inscritos.

Projeto Inovador:

Sempre buscando projetos inovadores Cecília Meireles inspirou-se nas ideias de educadores como: John Dewey, William James, Decroly, Kilpatrick e outros, inspirações trazidas do exterior por intelectuais brasileiros. Dessa forma, a educadora tentou trilhar o caminho da inovação através de um modelo pedagógico mais livre e criativo. Entendendo a biblioteca como um importante espaço escolar para desenvolver o interesse da criança pela leitura espontaneamente.

Influências Políticas e a Falta de Livros:

 Engajada na busca de soluções para o desenvolvimento da Educação Pública, Cecília participava do programa: “A página da Educação”- Onde debatia com Educadores, Pais  e Pessoas  influentes, formas de aplacar o obscuríssimo dos opositores das novas ideias. Fato que provavelmente tenha desagradado ao então, governo Getúlio Vargas prejudicando o avanço dos seus projetos Educacionais.
Segundo Pimenta (2011), um dos problemas cruciais que Cecília enfrentou era a falta de livros, levando a educadora afirmar. “O pensar organizacional criterioso de uma biblioteca infantil requer antes de tudo lutar com uma desigualdade que intimida o bom propósito. A falta de livros para crianças entre nós.” 

A acusação, O livro proibido e o Fechamento da Biblioteca.



Apesar de todo empenho Cecília não conseguiu manter a biblioteca ativa e suas atividades funcionaram apenas entre 1934/ 1937. Devido a demissão de Anísio Teixeira em plena vigência do Estado Novo e a acusação de que a escritora tinha ideias comunistas, além de distribuir um livro infantil censurado. Intitulado: “As aventuras De Tom Sawyer”.  Recebendo ordens para desativar a biblioteca imediatamente. Tempos depois, o Pavilhão foi demolido para a realização de um centro empresarial espelhado como mostra a imagem abaixo:





Por Fabiana Dovier estudante do curso de Biblioteconomia da UFPB.

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