A Atuação do Bibliotecário em tempos de guerra


 Quando se fala no profissional bibliotecário, a primeira imagem que vem a mente das pessoas é de um indivíduo trabalhando em meio aos livros dentro de uma Biblioteca. Essa visão não está errada, mas nos últimos anos o bibliotecário vem desempenhando as mais diversas funções e atividades além do trabalho na biblioteca. Mas você sabia que os bibliotecários foram peças essências na coleta de informações e dados durante a Segunda Guerra Mundial e até mesmo durante a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética? Como assim? Nesse estudo iremos conhecer como esses profissionais foram treinados e agiram como verdadeiros espiões durante esses eventos.

 


Ao se falar em conflitos armados como a Segunda Guerra Mundial e todos os tipos de profissionais que de alguma forma estavam envolvidos, talvez os bibliotecários sejam  um grupo que nem imaginariamos que estariam presentes. Mas eles estavam presentes sim, e além disso, foram essenciais para que as nações aliadas vencessem os nazistas. Esses bibliotecários agiram como verdadeiros espiões para coletar informações cruciais para o fim do conflito.

O Trabalho de Espionagem

Grande parte do trabalho de espionagem é a coleta de informações públicas. Os espiões devem coletar tudo que for necessário para se informar das estratégias, táticas e planos do inimigo. Isso em uma época que não havia internet, a televisão não era tão popular e o rádio era limitado a algumas pessoas da população. Dessa forma para se conseguir as informações era necessário consultar livros, jornais, relatórios e revistas. E com a guerra ocorrendo essas fontes eram quase impossíveis de serem acessadas. Por conta dessa dificuldade de conseguir informações, em 1942 o OSS - Office of Strategic Services (Escritório de Serviços Estratégicos), um órgão governamental dos EUA que antecederam a CIA, elaborou a seguinte estratégia: “Se a informação não vinha até eles, eles então iriam até a informação."

Bibliotecários como agentes de espionagem

Para executar essa estratégia de coleta de informações durante a guerra, foi criado o IDC (sigla em inglês para Comitê Interdepartamental para aquisição de publicações estrangeiras). Foram treinados bibliotecários e bibliotecárias que aprenderam/especializaram em técnicas de microfilmagem, catalogação, identificação de materiais estratégicos, etc. Esses profissionais foram enviados para Lisboa em Portugal, que na época era uma das cidades mais cosmopolita e onde circulavam pessoas das mais diversas nações. Outro fator positivo para esses bibliotecários enviados para Lisboa, era o fato de ser uma cidade extremamente culta e que possuía diversas bibliotecas, livrarias e centros de referência.

 


Os bibliotecários americanos aproveitaram esse cenário e começaram o seu trabalho. Bancas de jornais tinham disponíveis jornais de quase todas as capitais européias e as livrarias contavam com publicações do EIXO e de seus aliados. Além disso, esses bibliotecários acessavam o material de livrarias e bibliotecas especializadas em publicações científicas e que também possuíam em seu acervo mapas, catálogos de linhas ferroviárias que ligavam a Europa, meios de produção, etc. Os bibliotecários se apresentavam como americanos que estavam recolhendo material para a Biblioteca do Congresso americano (o que não era uma mentira), e como eles tinham pouco treinamento em espionagem (apenas o básico) e não falavam muito bem o idioma português, eles acabavam passando despercebidos e ganhando a simpatia desses livreiros portugueses que não simpatizavam com os nazistas.


 

Como Portugal na época era governado pela Ditadura de Salazar, havia uma censura muito grande para todo material de procedência dos EUA. Assim muitas revistas americanas eram proibidas. Mas os bibliotecários americanos do IDC tinham como trazer essas revistas diplomaticamente e as repassavam para os livreiros portugueses que as revendiam para seus clientes, alguns deles sendo agentes alemães. Como agradecimento esses livreiros conseguiam livros e jornais desses agentes alemães e passavam para os bibliotecários americanos. Não precisa dizer como essas publicações eram de extrema importância, pois elas traziam além de propaganda o resultado de operações dos nazistas e seus aliados. Como por exemplo o local onde um general ou coronel alemão participava de um evento, e dessa forma era possível saber onde estava localizada a unidade militar dele. Todo esse material era microfilmado pelos bibliotecários e enviado para análise nos EUA ou em postos locais espalhados pela Europa. Usando dessa tática de espionagem, os bibliotecários americanos conseguiram todo o tipo de informação de que precisavam. O que garantiu para os EUA e seus aliados dados cruciais para a vitória na guerra.

Pós-Segunda Guerra

Em 1946 a CIA apresentou ao congresso americano uma proposta de ser criado um comitê permanente, assim como foi o IDC. Isso tudo devido aos excelentes serviços realizados por esses bibliotecários na coleta de dados e informações na segunda guerra. Foi durante a Guerra Fria entre os EUA e a URSS, que os sucessores do IDC (bibliotecários novamente) coletavam jornais, revistas, livros e artigos científicos da União Soviética e dos países do bloco socialista europeu.

Conclusões Finais

Através desse estudo podemos ver que o bibliotecário não é exclusivo da biblioteca e dos livros, mas também pode nos surpreender como um agente de coleta de informações em conflitos armados. Exercendo um serviço investigativo, sem pegar em armas, mas utilizando dos seus conhecimentos para ir até as fontes, e dessa forma ter acesso a dados valiosos. Vale salientar que foi após a Segunda Guerra que a área da Biblioteconomia passou por mudanças e avanços significativos. Esse será o tema do próximo estudo do blog.

 

Estudo pesquisado e realizado por Jonatã da Silva Higino, aluno do curso de Graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal da Paraíba. Email para contato e sugestões: natan.higino@gmail.com

 



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